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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

terça-feira, 17 de abril de 2018

Paraíso Apurinã

14 e abril de 2018
por Sebastião Pinheiro 

Vivi muitas más situações na minha vida, mas recebi muitas coisas boas. Estes dias graças a um convite da OPAN (Operação Amazônia Nativa) me vi em uma imersão espiritual. Durante três noites, balançando na rede busquei encontrar algo para comparar com a minha alegria e vocês vão rir pois não a encontrei na forma direta, mas no inverso. Sim o inverso, pois eu escapei da cidade no sábado passado quando uma parte da população estava em brasas e outra destilando o seu ódio, mas ambas condenadas ao escárnio, pois o governo não pertence a militantes, nem a oposição pode considera-lo desinteresse. Magnetizados, polarizados por indução ignorante, midiático-consumista ficamos estupefatos.


Bem, até algumas horas atrás eu estive em uma aldeia indígena Apurinã nas proximidades de Lábrea no sudoeste da Amazônia sobre o rio Purus para onde viajei na noite de sábado/domingo passado. Queria explicar aos amigos a minha alegria e não encontrava um referencial. Finalmente encontrei um livro, um livro fantástico que li "Heart of Darkness" do escritor polaco Joseph Conrad. Se vocês não o leram é certo que tenham visto o filme cult de Ford Coppola "Apocalipse Now" cujo roteiro é adaptado para a guerra do Vietnã. Tanto o livro quanto o filme mostram os horrores de uma luta entre inimigos na subida do Rio Congo e Mekong, respectivamente, na primeira guerra mundial e na do Vietnã e eu, pelo contrário, havia deixado a discórdia nacional e subindo o rio Purus adentrando ao paraíso terrestre na Aldeia Apurinã.
"Equipe da Caravana do Esporte e da Caravana das Artes partiu de Lábrea no último domingo para expedição pelo Rio Purus (Foto: paulo Duarte)"

93 cidadãos de várias etnias, povos com suas línguas, costumes, cânticos e danças em um curso de Saúde do Solo com Cromatografia de Pfeiffer. Muitos jovens, muitos meninos e meninas, suas mamães e papais, alguns idosos e seus caciques cautelosos, solenes.


Em uma semana na aldeia com aulas práticas em 3 turnos, sem uma palavra áspera, grito ou atritos. O ambiente era tão alegre que logo as crianças, até mesmo os mais pequenos estavam no meio das práticas, sem receber broncas ou advertências.

Noam Chomsky faz não muito disse que as populações nativas são as únicas pela sua formação, sabedoria e modus vivendi que podem evitar a catástrofe climática. O cientista gringo tem razão, pois hoje no mundo sabe-se que a "Terra Preta de Índio", tal como as Chinampas mexicanas são os solos criados pela mão humana mais férteis do mundo para a ação ultrassocial de alimentar a todos.


Os Apurinãs com seus irmãos estão com Sistemas Agroflorestais com mais de cinco anos de idade e agora podem fazer o Atlas da fixação dos gases do efeito estufa no solo com a Cromatografia de Pfeiffer.


O momento mágico espiritual foi a instalação do campo de metagenômica na aldeia e a proposta de acompanhar o desenvolvimento microbiano desconhecido com cromatogramas periódicos, sendo pelos jovens nativos feito as primeiras análises do futuro Atlas da Saúde do Solo. A aplicação do "pó de carvão", que os britânicos, australianos, japoneses, alemães e gringos chamam de "Biochar", em uma contradição atroz, pois não se pode criar vida com fogo e a ousadia de nomear a terra preta de Índio com o nome de "Terra nova" ao mesmo tempo em que, com descaramento dizem não se pode produzir mais a Terra Preta de índio, mas querem monopolizar os serviços impostos de forma compulsória em um mercado projetado para 17 trilhões de dólares/ano. Em uma ante visão futurista, o cacique Marcelino Apurinã fez em sua aldeia Novo Paraíso em 2014 uma míngua "nosso natural".

Diferente da polarização mediática da realidade nacional, joguei com as crianças Caleb, Lucas, Tiago, Luis e muitos outros, percebam meu norte referencial em Joseph Conrad no Heart of Darkness (pdf do livro em português no final), quando fiz por alguns minutos o Purus se transformar no Congo, ao me perguntar: aquelas crianças apurinãs podem ser tão nativas de sangue quanto em informática sem perder sua felicidade e inocência. Enquanto as dos países que buscam definir o Biochar, nativos em informática são tão piratas quanto os seus pais. Ao chegar a Lábrea liguei a TV e soube que uma coligação bombardeou a Síria. Eu tenho a cópia do discurso do deputado Winston Churchill sobre a importância do uso de armas químicas sobre a população curda em 1923 para lhes trazer civilização. Sim retornei ao Hospício, onde igualzinho a prisão de Napoleão transformou-se em uma batata quente nas mãos britânicas, parece que Curitiba é a Ilha de Santa Helena.


Se aquelas crianças tivessem uma boa escola, não teria como perder a esperança no futuro e todos teríamos o direito de esperar pelos campos Eliseos de Hades.

***
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