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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sábado, 5 de abril de 2014

Cinquentenárias Ditaduras


Sebastião Pinheiro

Estarrecido acompanhei as manifestações cinquentenárias do início da última ditadura. Li material dos dois lados. Consternado reflito: Quando existiu democracia anteriormente, já que certas “liberdades” não garantem sua existência. Para o exercício da cidadania é indispensável que o Estado esteja a serviço de todos e não para alguns, “mais iguais” das elites nacional togada, fardada, batinada ou esfarrapada, onde toda e qualquer repressão e morte são instrumentos de intimidação (medo e terror).

Festejos com nostalgia nas lembranças épicas para uns, memória “denigrante” para outros reflete como algo não superado nem transformado. Como disse o artista: “Faz parte do meu show”. O uso de ditados exóticos transparece erudição; Os russos dizem: “Quem olha para o passado se arrisca a perder um olho, mas quem não olha perde os dois.” Já os genuínos tupis e tapuias diziam: “Jamais levante a casca de uma pereba, pois podes conhecer a real dimensão da ferida”. Vida republicana que, aqui está atrasada anos luz da cidadania para todos (de forma pública). Não confundam, mercado e consumo é outra coisa e há bastante e de boa qualidade nos EUA e adjacências.

Reflita, quantos presidentes dignamente eleitos conseguiram terminar seus mandatos e passar o poder para o seu sucessor também eleito desde a instauração (golpista) da república? Entre os 34 foram raros e isso não foi privilégio nosso, nem de nossos vizinhos. Onde a cidadania deveria ser mais consolidada tivemos no Século XX as ditaduras, franquista, salazarista, grega, turca, filipina se quisermos ficar próximos ao Primeiro Mundo e muito similar ao presente entre árabes, africanos e asiáticos.

Não queremos ver, mas os interesses bancários (e industriais) são hegemônicos e únicos sobrepondo-se a tudo como uma escola. Há tutela e qualquer alteração deverá ser de forma “lenta, gradual e irrestrita” pelos preceitos do Council Foreign Relations, que impôs a “abertura” e todas suas consequências (e que o Golbery explicou serem os movimentos de diástole e sístole). Contudo, quantos bancos havia antes do golpe de 64? Quantos há agora e quantos haverá no futuro próximo? De onde surgiu o HSBC, que é milenar e faz parte do acordo pela devolução e dívida por Hong Kong.

Antes de comemorar a presença das diminutas escaras (casquinha de ferida), vejamos: O Fulgêncio Batista acumulou tanta “entropia” (energia incapaz de realizar trabalho para o Império) e sua substituição por Fidel Castro era aceita no anseio de transformar a insatisfação em energia livre, renovação, mas eis que deram com os “burros n’água”. O mais importante é que mesmo sendo uma ilha, foram obrigados a mudar de lado e servir ao poder antagônico até serem abandonados à própria sorte...

Aqui mantiveram o congresso aberto, mudavam o gorila de turno, para atenuar a entropia e favorecer a concentração financeira. A abertura é concomitante com a reaproximação da China (Nixon) e imposta por Carter com sua política de “direitos humanos”. Palavra que hoje é repetida de forma estranha: A soberania alimentar é um direito humano; A “merenda escolar” é um direito humano. Palram como os papagaios e caturritas, pois antes a ordem era: Há fome no mundo (não a de Josué de Castro) e alinharam a todos em dois polos; Depois veio a “A segurança alimentar” do CIFR-Fundação Rockefeller aproveitando reflexo (medo) da Lei de Segurança Nacional e por fim a soberania alimentar e merenda escolar-direito humano, comemorando a democracia, quando nos supermercados há a cada dia maior espaço para comida para cães e gatos.

Os festejos da redentora me são indeléveis: 397 anos depois de sua fundação por São José de Anchieta nela nasci; Órfão fui criado por tios, mas em 1960 quis viver com minha mãe, operária têxtil e irmão menor. Prestei exame de admissão para o único ginásio (noturno) “gratuito” de São Gonçalo/RJ graças à complacência de um exilado argentino (Don Villafañe), que mesmo fora do prazo me inscreveu: “São 600 e há 20 vagas, das quais 4 reservadas para os políticos do PTB de Miguel Couto Filho...” Eu tinha então doze anos e fui o quarto classificado, graças à escola que começou com São José de Anchieta e se manteve pública pelo valor do café e organização social. Lembro, o primeiro colocado, Sr. Expedito tinha 35 anos; O segundo Elber, 24 anos, pára-quedista profissional do Exército: A Terceira Elida 21 anos. Quando me chamaram todos riram, pois eu era uma criança e usava calça curta. O governador do Estado do Rio era Roberto Silveira (PTB ), que alugava peças em casas de correligionários e fazia de conta que abria escolas. Isto é república, é uma democracia?

Diante do sucesso inusitado de seu rebento, minha mãe levou-me ao Colégio público Henrique Lage, em Niterói para tentar inscrever para fazer exame, mas o diretor dissuadiu-a, ao fazer meia dúzia de perguntas a ela, não a mim... Entendi que a escola era para ricos e não para todos.

Desde a favela do Mutuapira acompanhei a renúncia “golpista” de Jânio suas consequências em diferentes etapas através do “parlamentarismo” enquanto o golpe era fomentado, como pode ser bem documentado no livro-tese do uruguaio Andrés Dreiffus em 1983, já aposentado da UFMG. Todo mundo fala no infame Lincoln Gordon, mas nenhuma referência é feito ao “afogamento” do embaixador soviético Ilya Tchernitshov na praia de Copacabana. O jogo era pesado e estava muito além do poder local.

Eu trabalhava como “Office boy” no Depto. Comercial da Legação da República Popular da Bulgária e trabalhei na Feira de São Cristovão (aquela da bomba da CIA; bombas no Cine Bruni etc.), onde o outro lado expunha seus produtos na abertura para o Leste contrariando a Ordem Imperial da Guerra Fria. Esse é o golpe no mundo e nós nos masturbamos como se existisse um poder, autonomia, autocontrole nacional. Lembram do Geisel em Londres acompanhando Sua Majestade Real no Museu da II Guerra Mundial dizendo que não via nele uma bandeira brasileira e que iria providenciá-la... Escola cidadã evita gafes. Contemporizo lembrando o príncipe holandês Barnhard subornado pela Lookhead e a abdicação de Juliana.

O ambiente da favela é a escola brutal para a rebeldia ou servidão, já no limiar da marginalidade retornei à cidade fundada por São José de Anchieta, através da transferência para o novo Escritório da Legação da Bulgária, instalado no sétimo andar do Edifício Triângulo, construído por Niemayer no cruzamento das ruas Direita, Quintino Bocaiúva e José Bonifácio. Ali aprendi espanhol, lia estudava o jornal “Novos Rumos”, como também o distribuía em mais de cem lugares. O convívio com os diplomatas búlgaros me fez pensar em diplomacia, mas a clareza de ausência de cidadania, não de democracia demoveu-me e graças a eles fui estudar agricultura para ter casa, comida e estudo. Depois do desastrado discurso na Central do Brasil. Em 15 de março Nissim Nissimov, Cristo Gumnerov, Vodnentcharov e Madrik Zahakian avisaram que iam ficar “recolhidos” no Rio de Janeiro. Nissim pediu-me que queimasse todos os livros, selos de primeiro dia de circulação e lembranças, pois uma noite longa e dolorosa se debruçaria sobre a nação. Fiquei sozinho no escritório e no dia 19 de março antes do meio dia, bateram à porta, um agente do DOPS e um oficial da Aeronáutica e queriam entrar. Foram barrados. Disseram que o escritório devia ser fechado, pois o governo do Estado havia declarado ponto facultativo pela “Marcha com Deus pela Família e Liberdade” ia passar pela Rua Direita rumo à Praça da Sé com a Dona Leonor esposa do governador...

Eu gostava de ficar no escritório, pois aproveitava mais para estudar e fazer os deveres do último ano de ginásio noturno no Estadual do Imirim, que era extremamente difícil pela má qualidade cidadã no ensino de donde eu vinha. Arrogante, como todo favelado que deseja exercer cidadania: apontei a placa onde dizia em dois alfabetos Legação da República Popular da Bulgária e arrematei os senhores sabem ler o que está escrito aqui. Isso aqui não é um órgão público paulista é uma representação diplomática da R.P. da Bulgária. Ganhei um cascudo e um tapa na orelha. Nesses dias era muito estranho, havia a ação da R.U.P.A (Ronda Unificada da Primeira Delegacia Auxiliar) que prendia trezentas a quatrocentas pessoas espalhando terror na cidade. Muitos tirados da cadeira do barbeiro, de dentro do ônibus e até de cinema. Era um período de treinamento com intimidação e medo, muito antes do golpe.

Veio o primeiro de abril, para mim um dia especial, meu aniversário. Vi as livrarias da Quintino Bocaiúva serem invadidas por militares e os livros destruídos e recolhidos por caminhões na calçada. O mesmo vi nos correios com a Revista “Cuba Hoy”; O Depto. Comercial da Legação da Hungria foi invadido e seus diplomatas foram maltratados. Acompanhei a prisão dos diplomatas chineses e as acusações que eram espiões e possuíam armas etc. Vi a campanha de “Ouro para o Bem do Brasil”, recolhendo alianças e relógios antigos.

No fim do ano conclui o ginásio e atendendo as recomendações dos búlgaros fui estudar no Colégio Agrícola. Ali era preciso dissimular, pois lá toda semana havia o controle da repressão de Ribeirão Preto. Formado tirei meu passaporte 709842 assinado pelo mesmo oficial da Aeronáutica que me outorgara um cascudo na porta do Depto Comercial da Legação. Fui para a Argentina. Voltei e vi duas coisas fantásticas no Rio Grande do Sul: - 1200 moinhos coloniais fechados pela ditadura em cumprimento à Ordem do CIFR-Rockefeller dono da Purina e que não queria que a gauchada fizesse suas próprias rações; Hoje monopoliza as rações e expandiu para os animais domésticos. - Mais de seiscentas Caixas de Empréstimo Cooperativas Rurais tipo Reiffeissen que funcionavam em todo o Estado auto-financiando os Agricultores foram proibidas e fechadas pelo mesmo CIFR-Rockefeller. Primeiro centralizaram o crédito estatal para disciplinar e depois o internacionalizaram. Foi criado o AGIPLAN para que as sementes de grandes corporações substituíssem as locais; O II PNDA projetava o consumo de agrotóxicos para 280 mil toneladas em 1980, quando ele estava em 16 mil toneladas.

Geisel cumpriu a ordem do CIFR-ROCKEFELLER e criou o PROCAL. A venda era pelo banco do Brasil, através de crédito rural, mas devolvia em dinheiro vivo 40% do valor da nota apresentado ao caixa do mesmo banco. A farra transformou-se em súcia no Adubo Papel. As cooperativas de feijão, milho e trigo se transformaram em cooperativas de soja, e hoje é uma entidade para-Monsanto.

Uma das coisas que mais me emocionou, em 1973, em Quatro Irmãos/RS foi uma escolinha pré-fabricada de madeira em uma ladeira quase em meio a uma plantação de soja cheia de crianças. Desdenhosamente era chamada de “churrasqueira do Brizola”, mas ali pude entender que a educação não era questão de partido, pois ele também era do PTB, nem de pessoas, mas de sociedade. Para se ter uma democracia é necessária a cidadania e não rebeldia ou servidão. Violências levam a ditaduras e justificam as repressões. Jango foi humanista e evitou o que aconteceu em Jacarta (1965) no ano seguinte, meio milhão de jovens mortos... Dois anos antes mediara a crise nuclear cubana. Triste, em 1971 o livro que mais ocupava as vitrines na Rua Barão do Itapetininga era “Minha Luta”, de Adolfo Hitler. Henry Ford queria seus automóveis funcionando com óleo de soja, impedido escreveu “o Judeu Internacional”, que estimulou os nazistas e O anti-semitismo. Na foto está Hitler em um campo de soja na Europa.

Os golpes beneficiam muitos em seus interesses pessoais corruptos, perseguem e prejudicam a quem os contrariam ou deseja cidadania. Esse embate não constrói democracia, pois ela se baseia não em votos, mas em estruturas cidadãs com direitos e deveres para todos.

Cinquenta anos depois do último golpe foi expurgada a corrupção? Foi extirpado o Analfabetismo? Há utopia quando o rebelde de ontem é o condenado encarcerado por corrupção hoje? O golpista de ontem continua dicotômico: vítima para uns e salvador da pátria para outros. Dentro de outros cinquenta anos é possível que tenhamos outras “viúvas” e “vivandeiras de quartel”. Afinal e a cidadania? Raros são os sobreviventes que sabem o que significava um “moinho colonial” em uma comunidade; Pior, hoje a grande maioria crê que o sistema de crédito cooperativo atual é o mesmo que se tinha antes, pois esquecem o contexto...

O açodamento na compra da Refinaria Pasadena era contrapartida ao visitante Bush Jr. (março de 2006); Exportação de Álcool-Biodiesel e perspectivas eleitorais (SP)? A Lavagem de 10 bilhões por burocrata da Petrobrás é consequência?

Nos festejos não vi uma linha sequer dizendo: Democracia é cidadania para todos (direitos, deveres, prêmios e punições). Cidadania não permite que uns se beneficie do sacrifício de outros. Golpe é governo para os amigos com licença para roubar em desrespeito às utopias. Enquanto continuar assim acordaremos todos os primeiros de abris esperando a presepada escrota. Eu infelizmente serei obrigado esperar os “Parabéns a Você”.

Rogar a São José de Anchieta para transformar o Brasil em uma grande escola; Ou seria melhor fazê-lo a Lutero (Georg Spalatin (Burkhardt) que cem anos antes de “Didática Magna”, de 1625 do Bispo Comenius já preconizavam “A primitiva natureza do homem era boa: A ela libertando-nos da corrupção devemos regressar.”

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